Em nome da irmandade e das ramificações criadas pelas mesmas, dirijo-me tempestivamente a dona Ana Maria de Souza a senhora minha mãe a qual tenho a honra e a graça de dizer que nos altos dos seus 92 anos vividos em plena lucidez me enche de orgulho e me deixa feliz. Bem como acredito na felicidade dos demais frutos provenientes desta árvore, pois, foi através dela que obtivemos a vida.
Sou o quarto filho dos quais estão vivos e posso dar testemunho da marcante trajetória de vida, dos tropeços e conquistas e das grandes batalhas ao longo dos anos desta vitoriosa mulher.
Pude ver um milagre acontecer, pude ver um ser humano desafiando seus próprios limites, pude ver uma heroína provocando seu destino, pude ver uma guerreira vencendo seus obstáculos, pude ver minha mãe fazer das tripas coração para fazer dos seus filhos os filhos que são. Além de educá-los nos bons princípios, na religiosidade, impulsionava constantemente para o caminho da escola, uma missão praticamente impossível, se tinha que trabalhar duramente para também alimentá-los e os vesti-los. Trabalho esse que às vezes não sobrava tempo nem para comer. Durante o dia uma rotina cansativa e sufocante. Muitas e muitas vezes a dona Minelvina sua mãe (carinhosamente mãezinha nossa avó) condoída com a sua extravagância de ficar sem comer para finalizar o seu trabalho diário, se dirigia até a beira do velho Chico com um pratinho de comida nas mãos a fim de alimentá-la e fazer continuar sem desmaiar sua árdua missão. Trabalho esse que hoje não se houve falar mais em quem coloque água nas residências levada com uma lata na cabeça por que hoje a água sai naturalmente das torneiras com a maior facilidade. Trabalho esse que hoje não se fala mais em bater pano na pedra de lavar roupa na beira do rio São Francisco para atender as necessidades dos meus senhores e minhas senhoras, pois hoje em dia toda casa em nossa cidade possui uma lavanderia. Trabalho esse que hoje não se fala mais em passar roupa com ferro à brasa soprando no fundo do mesmo para ascender às brasas e esquentar o ferro de maneira tão cruel que deixava a pessoa tonta e ainda recebia reclamações que a peça estava mal passada. Enfim, além do seu trabalho particular ainda havia os seus afazeres domésticos de fazer a comida para deixar pronta para os seus filhos, varrer a casa, lavar, pegar lenha e uma série de coisas incríveis sem de nada reclamar. Nos dias de hoje seria a verdadeira pereirão e com muito mais resistência e eficiência do que a da novela, porque na verdade se trata da vida real. Trabalho esse que lhe deu a dignidade de criar seus filhos tão bem criados o quanto os de muitos que possuía pai e mãe na nossa Velha cidade e até mesmo aqui na nova. Mas foi com esse trabalho que a senhora construiu verdadeiros cidadãos e uma cidadã nos transmitindo um grande exemplo de seriedade e dignidade, de caráter e honestidade um imensurável legado que levaremos para sempre na memória e queremos repassar para nossos filhos e nossos netos e assim sucessivamente. Trabalho esse que nos enche de orgulho pelo o amor dedicado a todos nós, ao contrário de muitas mães que preferiram doar os seus filhos para não ter que enfrentar essa missão dolorosa.
Hoje dona Maria, queremos agradecer de todo coração por sua coragem, por seu enfrentamento ao destino que a senhora própria traçou. Sua juventude vivida só para o trabalho com certeza não houve tempo nem para viver a vida, mas como Deus é bom e justo, tem lhe favorecido com saúde e bastantes horas extras para que a senhora possa recuperar daquele tempo sem tempo para sentir como é belo viver. Por isso quero finalizar minhas palavras citando a linda filosofia de vida de Madre Tereza de Calcutá.
“Enquanto estiver viva, sinta-se viva.
Se sentir saudades do que fazia, volte a fazê-la.
Não viva de fotografias amareladas...
Continue, quando todos esperam que desistas.
Não deixe que enferruje o ferro que existe em você.
Faça com que em vez de pena, tenham respeito por você.
Quando não conseguir correr através dos anos, trote.
Quando não conseguir trotar, caminhe.
Quando não conseguir caminhar, use uma bengala.
Mas nunca se detenha.”
Obrigado minha mãe, muito obrigado.
Pilão Arcado, 04 de fevereiro de 2012
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