segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sertanejo Nato e Burguesia




Ainda ontem vi Zé Maria
Num grito de castidade
Falar da vida amargura
O quanto sofre a criatura
Que luta pela verdade

Vi no seu leito paternal
Uma criança que gemia
Vi morrer todo seu gado
Vi seu progresso cessado
E o zombar da burguesia

Vi sair lá do quintal
Um cachorro que latia
Vi sua camisa rasgada
E uma cuia toda molhada
Da goteira que caía

Vi sua única vaca tão magra
Que não mais dava cria
Vi percorrer o chão
Tanta gente em procissão
Rezavam uma ave Maria

Vi urubu rondando
Procurando o que comer
Ouve gritos na estrada
Volvi o olhar à vaca
Acabara de morrer.

Vi do meu rosto suado
Surrado de sofrimento
Desceu um pingo de lágrima
E se perder na enxurrada
A expressar meu sentimento

Vi os meus punhos ensanguentados
Atados para o progresso
Mas inda vejo semear o grão
Vejo fortificar o chão
Com trabalho e com sucesso.

Mas dentre tanta amargura
Do que causa a burguesia
Ressurge a cada instante
O tal grito agonizante
O grito d’outro Zé Maria.

Autor: Mazinho do Pilão

Político na contra mão



Olhe aqui seu doutor
Pois agora vou te falar
Esta tá de ileição
Também tem no meu lugar
E é a maior correria
Quando chega este tá dia
De gente que quer votar

E não era de se esperar
Aqui ser bem diferente
Os candidato tudo alegre
Apertando a mão da gente
É promessa fiz e faço
E pra nós cair no laço
Todos eles mostra os dente

Se a gente vai passando longe
Ele chama logo pra perto
Corre um oi aqui ali
Onde ver um bar aberto
Oferece logo uma cachaça
E matuto na desgraça
Bebe até encher o teto

Ali ele fica contente
Se gloriano do que fez
Pensativo diz consigo
Este aqui eu ganho de vez
Não sabe a briga que vai dá
Quando o matuto em casa chegar
Enxergando dois ou três

O matuto já embriagado
Começa se alegrar
E diz com toda certeza
É no senhor que eu vou votar
Chamando seu companheiro
Diz assim: ele é verdadeiro
E é ele quem vai ganhar. 

Começa logo formar
Aquele mutirão de gente
O candidato pede uma musga
Deixando a todos contente
Chama mais dois que tá de lado
Chega pra cá camarada
Vamos tomar aguardente

Manda descer pinga e mais pinga
Enchendo a todos condenado
Eles coitado bebe
Pois vive mesmo quebrado
Nisso corre o dia inteiro
Todos eles sem dinheiro
E cada vez mais atolado

O pingunço é como raposa
De cana não se esquece
Enquanto tiver cachaça
O candidato não desce
Porém o filho no lar
Gritando pra se acabar
Coitado de fome padece

O candidato pra mostrar
Que tá no lado do povão
Toma um copo cheio de pinga
Com toda satisfação
Despois chama o dono do bar
Chega pra cá camarada
Vamo ganhar a ileição

Só basta ele falar assim
Pro alarido formar
O povo corre inriba dele
Beijos e abraços lhe dá
Nisso a cana vai frevendo
É uns matuto gemendo
E outros caído pra lá

Cada vez mais vai crescendo
O festejo ali no bar
O candidato aproveita
Pra algumas coisas falar
Nisso pula um matuto
Dando uma de quem é culto
Faz o comício em seu lugar

Depois de tudo acabado
O candidato vai se embora
Mas o difícil é dele acertar
A casa onde mora
Sai na rua cambaliando
Doido, bebo vomitando
Um pé dentro e outro fora

Autor: Mazinho do Pilão






terça-feira, 24 de julho de 2012

Coração Moderno.




Meu pequeno coração
Limita-se na ilusão
Tendo faro de amar
Romantismo sem paixão
Com meiguice pra aturar.

É um coração moderno
Sem bilhete, sem caderno.
Ás vezes fica só por ficar
Sem destino a ser eterno
Amando só por amar.

Tenho coração amante
Com o brilho fascinante
Quebrantando seu olhar.
E quando é forte o bastante
É febril e alucinante
Com desejo de amar
.

Só não é mais dos que morre,
Mas é daqueles que corre
Para não perder de vista
Amor moderno e franco
Do meu peito assim discorre
Um grande afeto sem pranto.