Ainda ontem vi Zé Maria
Num grito de castidade
Falar da vida amargura
O quanto sofre a criatura
Que luta pela verdade
Vi no seu leito paternal
Uma criança que gemia
Vi morrer todo seu gado
Vi seu progresso cessado
E o zombar da burguesia
Vi sair lá do quintal
Um cachorro que latia
Vi sua camisa rasgada
E uma cuia toda molhada
Da goteira que caía
Vi sua única vaca tão
magra
Que não mais dava cria
Vi percorrer o chão
Tanta gente em procissão
Rezavam uma ave Maria
Vi urubu rondando
Procurando o que comer
Ouve gritos na estrada
Volvi o olhar à vaca
Acabara de morrer.
Vi do meu rosto suado
Surrado de sofrimento
Desceu um pingo de lágrima
E se perder na enxurrada
A expressar meu sentimento
Vi os meus punhos
ensanguentados
Atados para o progresso
Mas inda vejo semear o
grão
Vejo fortificar o chão
Com trabalho e com
sucesso.
Mas dentre tanta amargura
Do que causa a burguesia
Ressurge a cada instante
O tal grito agonizante
O grito d’outro Zé Maria.
Autor: Mazinho do Pilão
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